Páginas Soltas

Sobre a solidariedade…

Junta-te a nós e come de nosso pão,

Partilha esta mesa como se tua fosse,

Bebe o vinho da amizade e descansa!

[com tempo]

Conta as tuas histórias, és nosso irmão,

Não tenhas pressa… se quiseres adormece,

Faz da noite a tua companheira e sonha!

 

Protege-te do relento com nossa honestidade,

E afasta a escuridão com a luz dos nossos rostos,

Procurando rasgar no silêncio o grito das palavras!

[e portanto]

Até que das nuvens raie o sol da liberdade,

Deixa na terra as marcas de teus medos,

Rompendo a corrente que cerca tuas utopias…

 

Oferece às estrelas a fraqueza de tuas dores,

Confessando à lua os momentos de desequilíbrio,

Desabafa na noite as tuas sinceras paixões!

[aproveita assim]

Reza ao Mistério pela vida de teus amores,

Envolve-te no infinito e respira o ar do alivio,

Sente a sabedoria que dá razão às desilusões!

 

Avisa quando partires e deixa tua mensagem,

Leva dinheiro para algumas portas abrir,

Sem mendigar a tua humanidade e o teu pudor;

[por aí]

Escreve e dá noticias sobre tua viagem,

Não esqueças a solidariedade que nos faz rir,

E chorar pela felicidade que sente o sonhador…

 

Sê solidário…

 

 

Dezembro 8, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Sobre esta época…

 

Que fazes?

Ó tu, que não olhas os teus presentes,

e compras nos restos dos outros o teu momento natalício!

Que fazes?

Ó tu, que não conheces nem neve, nem árvores,

não te consomes em compras, em montras, em espírito!

 

– Faz frio, cai neve, ou chuva… às vezes, não sei!

Faz frio e não me posso mexer… estou no chão (eu sei)!

Meu telhado é minha mesa… ambos são minha casa… por isso, chorei!

Minha ceia é meu almoço… meu único pão!

 

Como fazes?

Ó tu, que para esquecer-te do outro em ti há,

te escondes em solidariedades emergentes, urgentes (só nesta época),

te fechas num coração fraco, numa ignorância forçada,

procurando a verdade, a felicidade… se possível paz!

 

– A lareira acesa saboreia um frio agradável,

a mesa enche-se de pequenos luxos, novos sabores,

a família procura-se por entre a lista comensurável,

a fortuna deve-se a dividas, a créditos, a dissabores!0210-roberto-font-ruiz-poverty

Dezembro 1, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Veni, Vidi, Vici!

Cheguei, vi e venci. Assim disse há muitos anos atrás Júlio César, no auge das suas conquistas de território para o aumento do seu já glorioso império. Foi com esta certeza arrogante e prepotente na mente, cuspida pelos lábios e ouvida pelos que o rodeavam que o imperador atingiu o pico da sua ascensão e iniciou a sua queda vertiginosa. É assim ainda que hoje muitos sobem e se regozijam, para depois caírem num mergulho profundo de uma decadência sem paragens nem final.

            Que bom que é saber-se tudo quanto há para saber. Assim podemos julgar com justa causa, podemos ser juízes de tudo e de todos sem qualquer mácula, sem qualquer possível acusação de falhas. Como é bom apontar o dedo com certezas absolutas de que tudo é preto ou branco, concretamente claro aos olhos sábios de quem tudo sabe. É tão fácil que nem se percebe como é possível alguém não ver aquilo que é óbvio, ou seja, ver a quem, quando e porque apontar o dedo ao outro, pobre ignorante!

            Ser tão certeiro e correcto dá mesmo o poder de julgar sem limitações, de censurar sem delongas, quase até de castigar sem pena. Isto, claro, porque ser-se tão absoluto é pura dádiva divina e como tal encerra em si o dever, mais até do que o direito, de abrir os olhos aos cegos do óbvio, básico para os sabedores das verdades da vida.

            Pois que apenas, quanto a isto, tenho a dizer: Júlio César era imparável na sua sede de conquistas e no entanto foi parado quando chegou a altura; o Titanic era indestrutível na sua poderosa muralha de aço e contudo afundou quando já nada mais tinha a navegar. Traduzo então para os “não sábios” desta vida que habitam este mundo: ninguém sabe tudo. Ninguém pode julgar o outro sem conhecimento de causa. Nada é concreto e absoluto. Nunca coisa alguma foi ou será simplesmente preto ou simplesmente branco.

            Tudo são nuances. Tudo são cores infinitas que ficam entre esse dois extremos. Tudo é provável, possível, imaginável, concretizável, exequível, mas NUNCA certo ou absoluto. E ninguém sabe a melhor solução para todos os casos, nem sequer para apenas um, na maioria das vezes, porque simplesmente não sabe tudo acerca do caso, todas as nuances que o envolvem e que se misturam, tornando-o difícil de analisar e logo de julgar.

            O verdadeiro sábio é aquele que tem consciência da sua impotência perante as variáveis de cada caso, de cada vida. È aquele que sabe que um julgamento é a tarefa humana mais difícil de realizar por depender, em última instância, do mais ínfimo pormenor indirectamente relacionado com o caso. É aquele que reconhece a sua fraqueza perante a aleatoriedade dos supostos factos, poderosos demais para que uma certeza concreta lhes resista mantendo a sua essência de verdade absoluta e inquestionável. É aquele que é considerado um pobre ignorante pelos sábios charlatães de trazer por casa e que como dúvida mais certa, têm a quase certeza de que esses pseudo-sábios não mais são que desgraçados iludidos na sua própria ignorância de tudo e que mais cedo ou mais tarde se transformaram nos Júlios Césares do Hoje, isto é, quando menos esperarem, a sua ascensão estará invertida e mais não será que uma queda confusa de certezas que já não têm.

Novembro 19, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Sobre o Protesto…

 

«Dentro de um papel a lei»,

Fora das palavras a liberdade;

Gritos de revolta, manifestações de frustração!

 

Corpos cansados, burocracias pesadas,

Crianças sozinhas, mestres ocupados,

Filosofias à solta, ideias sem rédeas,

Regras roubadas, sorrisos obscuros.

 

Desgastam-se as esperanças, mudam-se os rumos,

«luta-se por tudo o que se leva a peito»,

Posturas anárquicas, lideres escondidos…

 

Ordens desajustadas, ajustes de contas,

Grupos sozinhos, discutindo em silêncio,

Noites perigosas com clandestinos vadios,

Soldados vigias com paisanas escandalosas!

 

Novas seguranças, para novos conflitos,

Outras razões para se protestar o desagrado,

Invenções eficazes para calar a multidão!!!

 

Hierarquias pesadas para operários frágeis,

Rumores falsos sobre temas delicados:

– Povos instrumentalizados! Quem disse? Como adivinhou?

– Os dirigentes senhor! Os dirigentes!

 

Provérbios antigos melhor explicam o presente,

«água mole em pedra dura, tanto bate até que fura»:

– Povo, não esquecei – «deus escreve direito por linhas tortas»!

– Que dizem os dirigentes senhor? Não os percebemos!

 

Crescemos voltados para paraísos imaginários,

Perseguindo bons portos para poder descansar,

As dores de um vazio que não avisa à chegada,

As lágrimas de uma partida… e… de mais uma ausência!

 

Uma voz que se cala, uma arvore caída,

Uma vida assassinada, um povo que morre,

Um líder abatido…enfim… uma criança que nasce,

Uma revolta que acorda… a paz, a não-violência, a tolerância!

 

«Eram mulheres e crianças, cada um com seu tijolo»

Numa aldeia intemporal de relações solidárias;

– Solidárias? Quem gritou tal blasfémia?

– Fui eu, tu aí! Fui eu!

– Apanhem-no! Desobedeceu à nossa lei!

– Ser solidário é o meu grito!

– Viva à liberdade! – responderam os outros!

 

 

…nessa noite, mais uma vez, ouviram-se tiros;

…nessa noite, mais uma vez, as pessoas exaltaram-se;

…nessa noite, mais uma vez, tentou-se mudar;

 

– Quem luta com o peito sujeita-se a chorar também!

 

Novembro 17, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Pensamentos peregrinos numa noite escura…

noite1É tarde numa noite escura e igual a tantas outras. Ela dorme sem problemas de maior a perturbar o seu sono reparador. De repente, num sem razão aparente, ela vê surgir dentro da sua cabeça, vindo do âmago da sua alma, uma incerteza que não lhe dá paz, uma insegurança que a paralisa e não lhe permite conciliar mais com o sono, antes tão tranquilo.

Surge mais uma vez a dúvida insistente de um futuro pouco claro cujos contornos teimam em não se desenhar de um modo concreto que lhe permita ver o que a espera nesse horizonte que vai chegar sem delongas. Que fazer com este não saber mais o que escolher por medo de errar um passo que se quer acertar sem falhas? Como descansar um espírito em vigília constante porque o descanso não o pode envolver por completo devido ao fantasma desse futuro-mistério que traz demasiado receio aliado à expectativa da sua chegada?

Ela embrenha-se cada vez mais em pensamentos hipotéticos do que poderá ser uma realidade quando o futuro próximo se tornar finalmente um presente inconturnável. Vê medos, alegrias, tristezas, sorrisos e lágrimas numa dança de ideias confusas que são possíveis e concretizáveis nesse dia que vai chegando devagarinho ao Hoje. E com tudo isto teme a entrada desse comboio na sua estação porque não sabe qual dos passageiros que imaginou ele irá largar no seu apeadeiro, tal como não sabe se mesmo as suas ideias mais prometedoras serão de facto assim tão positivas num cenário real e não idílico.

E no meio de toda esta preocupação de “ses” prováveis, a sua alma cansa-se e desgasta-se num turbilhão de emoções fortes demais para uma rapariga só, no seu quarto, numa noite escura como tantas outras. E por isso ela acaba por adormecer, exausta de várias vidas vividas intensamente e em modo rápido num sonho acordado de incertezas secretas. E assim ela é obrigada a dar o descanso necessário ao seu ser sugado de toda a energia por estes pensamentos assaltantes, que no entanto não desaparecem, guardam-se apenas para a perturbar numa outra altura, numa outra noite, até que o futuro chegue de vez e lhe tire todas as dúvidas pelo realizar da incerteza que agora teme por desconhecer…

Novembro 12, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário

Sobre o tempo…

Representamos o tempo, o vento, 6950864

a miséria escondida! …

Representamos a luta, a opressão, o castigo,

o horror esquecido! …

Entoamos louvores, gritos, loucuras,

e rasgamos horizontes nunca vistos;

Morremos diariamente sem nunca adormecer…

…como se a vida se tratasse de um purgatório!

…rostos de incertezas e espaços de decisões!

Perdemos o tempo com opiniões baratas,

jogamos jogos que não dão fortuna… perdemos de novo, procurando…

…num sonho antiquado,

as forças que combatem os nossos inimigos!

Representamos a guerra…

Pois,

representamos a miséria escondida (tinha dito!),

e por trás de festas e banquetes… caímos… morremos de desgosto!

As marcas e as tatuagens lembram feridas nunca fechadas… enfim, sempre abertas!!!

Somos o rosto de um sofrimento silenciado,

calado até ao último fôlego… até à última canção, poesia, trova…

Somos o rosto de uma cara atrofiada,

roubada na claridade do dia… com discursos incorrectos e palavras gastas!

Somos o rosto de corações partidos,

aprendidos… aprendidos em liberdades inconscientes, irresponsavelmente consumidas!

Somos o rosto dos jogos, da violência,

da dor e das lágrimas choradas… símbolo da ausência, da solidão, da imprudência!

Enfim,                                                                                       

Partilhamos a pobreza, a doença,

Partilhamos a tristeza, a depressão,

Partilhamos mais nada… partilhamos tudo!                   

 

Novembro 9, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário

Manifestos para a Crítica Social! (Parte III)

voltoEntretanto, estamos a chegar ao fim desta crónica que, na verdade, eu queria continuar, visto que ainda há coisas para transformar e para “conquistar”. Estou a dizer que não podemos parar, visto ainda estamos no inicio de muitas novas lutas. Lutas com objectivos comuns com as anteriores… os nossos direitos políticos e económicos … e com objectivos diferentes, mas que se pretendem afirmar com a mesma força… direitos culturais, e sociais …!

Na verdade, manifestos para a crítica social representa a vontade e o desejo de uma utopia realizável, onde todos somos chamados a participar na construção de uma corrente mais forte e mais ajustada que consiga representar a heterogeneidade de nossas sociedades, compostas de minorias e maiorias, instituições dominantes e outras dominadas, crianças e velhos, ricos e pobres, sonhadores e cépticos, igrejas e religiões… utopias e entropias.

Desta forma, ao pensarmos que não são precisos mais manifestos e mais revoluções, estamos a ceder à vontade de deixar estar tudo como está e, mesmo que valha a pena não continuar, caímos em conformismos “atrofiantes” e deixamos de perceber a realidade com uma postura crítica e inquietante. A tensão que criamos entre nós e o mundo pode levar-nos a querer deixar tudo para trás e confiar que alguém (que porventura tenha mais poder) cuide dos nossos problemas. Doamos o nosso direito de opinião pública a quem tenha a melhor retórica e deixamos… de gritar! Não podemos deixar de escrever poemas! Não podemos deixar que nos roubem a voz, a alegria de viver, a nossa utopia…

Manifestos para a crítica social representam o tempo e o espaço que dedicamos a pensar em variados acontecimentos dos nossos dias. Na parte II pensávamos na questão “onde estamos?” e a interrogação continua. Não devemos curvarmo-nos perante os desesperantes desafios do destino e, perante ele mesmo, compreender que temos duas formas para o interpretar: podemos pensar que estamos a lutar contra o destino, ou simplesmente a contorná-lo para não ter de o enfrentar.

Contudo, tanto de uma forma ou de outra, o sonho de uma terra mais justa, mais solidária, onde a liberdade não seja consumida sem responsabilidade não pode morrer no primeiro sufoco e a fé de que “outros virão para me render” não deve nunca desaparecer. Manifestos para a crítica social significam que as nossas lutas ainda não terminaram, e que, talvez, nunca terminem: na verdade, é uma História que nunca termina, sem fim, in-finita, e por isso, símbolo de graça e de dádiva… somos escolhidos para não deixar de ser como crianças…

Porém, as dúvidas em relação a esta postura tão militante face ao sonho de uma terra mais justa aparecem quando “esbarramos” com as primeiras barreiras face à concretização dos nossos projectos. Ou seja, quando estamos a lutar para a implementação de um projecto, para a criação de uma ideia, para o desenvolvimento de um conceito… a vida prega-nos partidas bem duras que nos atiram ao chão como se fossemos “restos”. Perdemos várias vezes as batalhas mais importantes e chegamos feridos a casa, precisando de todo o apoio, toda a dedicação… se não a temos em casa, procuramos fora, se não encontramos a paz na oração, mergulhamos na noite, e paramos! Precisamos descansar!

É neste tempo de espera que encontramos a força para continuar e, normalmente, as vozes mais sábias a avisarem-nos. De certa forma, a paciência que restauramos torna-nos mais sábios, mais “calejados”, mais responsáveis e, sobretudo, sonhadores mais sérios, mais “profissionais”… queremos construir um mundo mais justo, mas sem perder a cabeça pela “paixão” de mudar o mundo, de transformar as civilizações! Tornamo-nos mais sábios e pacientes! Mas ainda pouco maduros! Somos sempre crianças!…

É assim que começamos novamente, levantando a cabeça pouco a pouco e procurando não cometer os mesmos erros que na última vez. O orgulho vai desaparecendo e dando lugar à seriedade com que enfrentamos os problemas. A vaidade cresce mas começa a ficar moderada. Saímos de casa e a primavera rompe por entre a neve do inverno, os rebentos começam a estalar das plantas, os jardins nascem de novo nos terrenos vazios, e os nossos desejos, os nossos gritos começam tranquilamente a romper entre os barulhos de uma cidade desorganizada! É assim que desejamos, é por isto que lutamos!

Sem esquecer aqueles que não estão connosco ou os que estão longe a lutar pela suas causas (umas tão diferentes das nossas) e, também, pensando há uma possibilidade educativa tão forte quando participamos na construção da nossa política, do nosso saber, das nossas poesias, músicas… uma educação que não nasce no outro, de fora para dentro, mas que começa dentro de cada um no confronto com o outro, no conflito e, por isso, na ética, da acção, no corpo…

Este novo paradigma, marcado pela aproximação dos corpos, pela mediação dos conflitos vem querer combater a virtualidade com se vivem as relações, com que se sustentam as comunicações, os jogos com que conduzimos a vida e as violências com que alimentamos os corações… deixamos de ser de carne e osso para passar a ser de nanotecnologias, robots sociais que se navegam por margens muito pequenas de liberdade camufladas numa democracia sem validade e gasta do tempo. Novo paradigma que procura um equilíbrio mais natural da hierarquia social, ou seja, uma nova distribuição do poder, uma nova estratégia de actuação baseada na participação social, através de seus nichos locais, com poder de opinião pública nas decisões da polis.

É este o novo paradigma no qual a compreensão do outro é uma ordem sem lei, um conselho e uma crítica. A compreensão do outro como fundamento da própria existência humana e, por isso, fundamento antropológico relativo à própria forma como o ser humano se foi constituindo ao longo da sua história. A compreensão que é sentido de hermenêutica, de partilha, de troca e comunicação, de por em comum o que ainda não é de ninguém. Hermenêutica que corresponde à própria acção do ser humano sobre a terra: acção responsável, ajustada, equilibrada, mas com a possibilidade de conflito, de corrosão e corrupção (Parte I). Uma acção que, constantemente, deve ser colocada em causa e, ainda de uma forma pragmática relacionando a teoria com a prática, reconfigurada face às situações particulares.

Este é um trabalho difícil porque a realidade supera sempre os nossos preconceitos, as imagens e representações que temos dela. Devemos procurar na experiência dos outros o caminho para as nossas soluções! A experiência de outro torna-te a tua sabedoria e a possibilidade de fazer de outro modo: a possibilidade educativa.

Em conclusão, podemos avançar lentamente na construção das nossas utopias, e procurar encontrar o fundo do arco-iris. Sabemos que um dia caímos, mas que outros continuarão o nosso caminho. Contudo, agora, «a verdadeira vida está ausente. Mas nós estamos no mundo»! Precisamos de Novos Manifestos para a Crítica Social!

Novembro 5, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Mundo-Maçã de Supermercado…

Passam dias e horas e o mundo continua a girar do mesmo modo, a fazer a mesma rotação de sempre no seu velho eixo imaginário, seguindo atentamente o sol como sempre antes fez. Nada muda. Nada é revelado ao universo do caos terráqueo interno. Mas ele cresce sem parar e vai continuar a crescer até aos limites, talvez até ultrapassá-los, e quando isso acontecer, o que será de nós, dos outros, de tudo?

Nada hoje está certo ou justo. Há maldade demais dispersa por demasiadas almas sedentas de espalhar o seu frio conteúdo no mundo. Há interesses egoístas severamente entranhados nos espíritos, impedindo-os de serem piedosos pela própria piedade, mas apenas pelo que acarretará como benefício pessoal essa dádiva. Há muito quem finja que dá para receber e que cesse esse gesto quando já vê os seus desejos realizados e as suas necessidades satisfeitas. Há bastante quem se preocupe por fora, vendo apenas com essa situação uma nova oportunidade de ganhos próprios por dentro.

São ridiculamentea incontáveis as vezes que se ouve o inconturnável “coitado!” ao longo de um dia! É de chorar a rir esta misericórdia que salta da boca quando ocorre o mínimo azar doméstico e que fica tão bem dizer apenas porque “parece bem”. Cai mesmo que nem ginjas aquela preocupação hipócrita com os outros que é demonstrada quando num determinado momento os interesses apontam na direcção de plantar sementes naquele terreno para mais tarde lhe extrair todos os frutos, até ao último. E assusta de facto saber que há pessoas capazes de manipular as nossas impressões e emoções a esse ponto, ao ponto de nos fazerem acreditar que valem a pena.

Não, não valem a pena. Aliás, não valem sequer a nossa pena por serem assim e por se moverem no mundo conquistando os outros até à dependência para aí os largarem ao Deus-dará porque já estão secos da seiva que lhes serve de alimento. São seres humanos que apodreceram por dentro mas que por fora mantém a mesma aparência pia e pura, atractiva aos frágeis que querem por perto.

O universo vê apenas esta Terra-maçã de supermercado: brilhante, apetecível e que nos faz crescer água na boca exteriormente e contudo caótica, podre e cheia de bichos internamente. Cada pessoa vê todos os dias milhares de pessoas-maçãs de supermercado, cruza-se com algumas, conhece outras, torna-se amiga de umas tantas. Sofre o duro golpe que elas lhe aplicam e cai por terra,  magoada por alguém que supostamente lhe era tudo e que no final se veio a revelar como uma grande fonte de desilusão. Conseguirá continuar depois de saber que o mundo está infestado por seres como este?

Consegue…a custo recupera e volta a viver o seu hoje no seu mundo. Cresce pela aprendizagem e não se deixa mais cair nos ardis montados pelas pessoas-maçãs de supermercado. Vive longe do mundo dourado e perfeito aos olhos dos ignorantes e desatentos que foi na verdade montado por tais pessoas-maçãs . É agora um outsider do seu antigo mundo porque escolheu percorrer um caminho paralelo. Nada é mais como foi, nada é mais como era, mas agora é uma vida frontal e verdadeira, uma alcançada quimera.

Novembro 5, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário

Uma gota do oceano.

O que quero é.

Uma gota do teu oceano,

que anda desaparecida na galáxia dos meus Sonhos.

É ela, sempre ela.

Que me embala até adormecer,

Me envolve nos braços da Esperança,

e repete, repete.

Será melhor…

…Quando Acordares!

Novembro 2, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Dias.

Há dias sem coração.
(Gente que é gente estende sempre a mão)
Há dias bem tristes, têm toda a razão!
Esses dias existem, quer queiramos quer não.
Deus não ajuda, isso é pura ilusão.
Dias são dias. Deus é religião.
Suprema é a vida, ou será ficção?
Procurem…procurem!
Garanto! Não há solução!
Há dias difíceis, não há explicação…
Ah…se, ao menos, o corpo aguentasse
Tudo aquilo que à alma dói…
Se a dor não existisse,
(E como corrói…e corrói…)
O Mundo fosse só Mundo,
Sol e Lua apenas isso,
Nada de novo a nascer,
Não houvesse compromisso…
Todo este Mundo, assim,
Toda esta vida, como é,
Cada pedra num seu lugar,
Cada pessoa um sonhar,
Ninguém o poderia explicar!
Um Mundo alheio à comparação,
Sem belo nem feio,
Desconhecendo a razão…
Dias são dias.
Vocês, o que são?

Outubro 30, 2008 Posted by | Uncategorized | 2 comentários

Dolorosa busca de um fim.

Dói…

Tão perto, tão longe da superfície do meu ser

Dói de dentro para fora, de fora para dentro

Dói em qualquer sentido, dói segundo o vento.

Porquê? Pergunto…

Porque dói tão vivamente, como brasas a arder?

Porque dói assim esta dor latejante

Tão dorida quanto desesperante.

Busco…

Busco respostas e conforto num lugar que não sei

Procuro entre o que fui e o que sou

Procuro e mais uma vez magoou.

CHEGA!

Desisto…

Não aguento mais esta tormenta

Cada passo é errado, é criminoso

Não tenho forças nem para a letargia

Prefiro acabar com a agonia…

E fico.

E caio.

E sofro.

E daí a pouco morro.

Outubro 29, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Sobre o silêncio.

Que templo tens tu dentro de ti?
O que te preenche e te faz viva?
Quem te comanda, quem te guia?
Como vives? E como sobrevives?
Quem te espera à porta da escola? Quem te leva pela mão?
Quem te guarda? Por quem és responsável?
Quem cativaste? E quem amaste?
Quem odiaste? Quem mataste?
Morreste um dia, ou porventura, nunca viveste?
Em quem pensas? Com quem falas?
Por onde passeia a tua imaginação? Qual o teu sonho?
Para onde vais? E para onde queres ir?
Quem te vigia? Quem cuidas? De quem tratas?
Acreditas? Acreditaste? Vais acreditar?
Qual o teu rio? A tua maré?
Para onde viajas? Para onde vais?
[quero-te perto, sabias?]
O que vês? Consegues ouvir?
Sentes as tuas mãos? O teu corpo? Está escuro?
Onde vais? O que querias? Quem te prendeu?
Sabes voar? Imaginar? Sonhar?
Quem sou eu? Quem é o meu outro?
Com quem vou? Para onde vou?
Viajei? Toquei? Experimentei? Morri?


Outubro 27, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Novos Manifestos para a Crítica Social! (Parte II)

Terminámos o texto da semana passada com o argumento que a Educação é uma possibilidade educativa que nasce do limite da experiencia e da capacidade de hermenêutica da própria realidade: terminámos a dizer que esta possibilidade educativa é a construção de um lugar não-lugar, uma U-topia, e desta forma, uma possibilidade de re-significação da experiência através da busca constante de novos significados nas partilhas, na comunicação, na reflexão, na crítica social! Ao mesmo tempo, apresentámos uma relação de limite entre a natureza intemporal dos manifestos para a mudança social e a natureza temporal e corruptível do ser humano que, em última análise, leva a um caminho que não pode ser caminhado [como subir uma escada rolante que roda em sentido contrário].

Retomando o argumento da semana passada relativo à possibilidade educativa e à importância que esta “possibilidade” tem na (digamos) re-significação dos sentidos da experiência, vamos procurar, nesta segunda parte, fazer uma crítica dialéctica sobre os actuais discursos, e sublinho, discursos sobre a crise financeira e económica. É um tema actual e que, para a maioria de nós, mas que actual tem soado a real – perdemos, efectivamente, poder de compra, e isto é muito grave: as pessoas não podem usufruir de uma estrutura criada para as pessoas: o Mercado! É como comprar um carro e não poder andar nele porque não nos deram a chave. E, o que fazemos? Duas opções: ou ficamos em casa à espera que nos entreguem a chave, ou roubamos a chave do nosso próprio carro. Nesta relação com o Mercado, a maioria das pessoas não consegue “accionar” outras opções para além de estas. Ou ficam em casa, e transformam a sua casa num pequeno mundo onde tudo têm e nada podem perder (isto é a classe média); ou saem de casa e transformam a rua na sua própria propriedade sem consciência de que nada disto é nosso, acabando por roubar (uma figura jurídica que representa a acção de mexer em seu proveito em coisa alheia). Estes são considerados os gunas, pretos, chineses, mitra, etc. (antigamente eram os comunistas).

«Nem sempre uma marca tem a mesma forma do corpo que imprimiu e nem sempre nasce da pressão de um corpo. Por vezes reproduz a impressão que um corpo deixou na nossa mente, é marca de uma ideia. A ideia é sinal das coisas, e a imagem é sinal da ideia, sinal de um sinal. Mas pela imagem, reconstruo, se não o corpo, a ideia que outros tinham dele». Desta forma, a importância de pensarmos a finalidade dos actuais discursos de Crise torna-se crucial para percebermos, para o bem e para o mal, onde está o dinheiro de todos nós – onde está a riqueza mundial? As marcas que os discursos da crise nos deixam, a nosso ver, não falam de uma real crise, de bancos em verdadeira falência, sem dinheiro… é uma «crise técnica», ou seja, é a crise do sistema capitalista, onde algumas boas pessoas tomam conta de mais de 80 % da riqueza mundial. Vamos ver onde começou a crise?

Há quase dez anos, dois senhores conseguiram atingir o centro dos E.U.A. através da destruição (desumana) de duas torres. Começou uma Guerra Mundial (Ocidente contra Oriente; Cristão contra Muçulmanos – mais mundial que isto, é impossível) com palco no Médio Oriente. A governação Bush gastou valores que não cabem na nossa mente para sustentar tal proeza: o que ganhamos? Vocês dizem nada. Nós dizemos: uma crise no petróleo, uma crise financeira, e uma crise económica. Ainda está para vir a crise social (ela já chegou, mas com poucos manifestos). Estas três crises são bastante significativas e se formos à história percebemos que ambas as guerras trouxeram este tipo de crises. A guerra contra o terrorismo abalou estruturas bastante frágeis que asseguravam uma relativa pacificação entre países com culturas e mercados diferentes: é muito diferente ir a Marrocos comprar uma carpete que ir ao Jumbo. São modos diferentes de se relacionar com a Mercadoria e, consequentemente, com acção de Mercado. Ou seja, após o 11 de Setembro, muito por causa de uma política (aparentemente justa) de retaliação, os E.U.A. conseguiram “despachar” o velho armamento e os Senhores da Guerra conseguiram colocar as suas fábricas a trabalhar – afinal, há quem ganhe com a guerra?

Foram quatro anos de bombardeamentos ao Médio Oriente, camuflados com uma postura dominante face ao inimigo – eles eram os infiéis, sem regras, e que deviam morrer no inferno (onde já ouvimos isto?). Foram quatro anos de investigações forjadas para as “manias” de uma civilização, a ocidental, que encontrava nesse outro desconhecido o melhor “bode expiatório” alguma vez visto (afinal, eles tinham morto quase 5000 pessoas). Foram quatro anos de discursos políticos a favor de uma guerra que ninguém teve a coragem de chamar Mundial, porque, efectivamente, todos estávamos metidos nela. A Europa representada pela Inglaterra de Tony Blair, e os E.U.A. representado por Bush, Condolezza Rice e Colin Powel (que ainda vão receber um Nobel da Paz) a condenar politicamente, economicamente, ideologicamente um povo com quem não conseguimos ter relações amigáveis – eles são diferentes de nós! Em suma, foram quatro anos e que o mundo pode assistir ao retomar de disputas ideológicas (o maior exemplo está representado pela história dos cartoons contra Moamed) que se estenderam a todas as dimensões da vida social.

Depois deste período de guerra (se alguém tiver a coragem de investigar o conteúdo dos noticiários de todo o mundo nos quatro (cinco) anos a seguir ao 11 de Setembro, vai provar a tese de que 80 (90) % eram ataques, mortos de guerra) só podia ser esperado uma recessão: o dinheiro acabou, a pacificação nas relações económicas e financeiras não é a mesma, os povos andam desconfiados… a cosmopolia deixou de ser um arco-íris para passar a ter duas cores: «quem não está connosco, está contra nós» foram as palavras de Bush dois dias depois do 11 de Setembro a lembrar o velho cartaz (curiosamente americano) que diz «I want you». Primeiro a crise no petróleo, depois a crise do dinheiro, e por fim, a crise económica. Como já dissemos, falta a crise social. Algumas vozes já têm dito, “pois, isto ainda não acabou”…

As marcas que os discursos sobre a crise financeira e económica remetem para um vazio nas contas dos donos dos bancos e das grandes empresas. Dizemos isto porque, a única medida política contra esta crise foi a disponibilização do dinheiro dos contribuintes, dos dinheiros públicos (a fundo perdido) para que essas empresas retomem a sua normal actividade (que é lucrar cada vez mais à pala da exploração do Homem pelo Homem). Nos E.U.A. foram oferecidos 700 mil milhões de dólares! Pensem no que é isto! Pensem quanto existe para dar a esta gente! Pensem quantas bocas alimentaríamos! Pensem que passado uma semana de ser aprovado o plano Paulson, que os membros de uma direcção de uma das melhores empresas de seguros nos E.U.A., que beneficiou deste montante, apresentou facturas de umas férias de luxo com gastos que ultrapassavam os 500 mil dólares. Em Portugal, um país da cauda da Europa, o Estado ofereceu 20 mil milhões de euros para as empresas sobreviverem à crise, e simultaneamente, o presidente da associação nacional das pequenas e médias empresas, em entrevista, não foi capaz de dizer que as empresas gerem mal os seus lucros, mas como, agora, são obrigados a pagar os impostos a horas, não podem pagar aos empregados(as). Onde estamos? É a pergunta que vos deixo!

[para a semana, conversamos outra vez]

Outubro 27, 2008 Posted by | Uncategorized | Deixe um comentário

Momentos de loucura…

São duas da tarde, dou por terminado o mais sagrado de todos os rituais, pago e saio do café, mal ponho os pés na rua sou atirado contra a parede pelo magnífico sol que se faz sentir. Respondo e não sucumbo à cadeira da esplanada, prossigo, desta feita sou atacado por um cordial cumprimento de um velho amigo: Belo dia para trabalhar diz-me ele… (está ainda melhor para descansar – digo eu) ainda não foi desta, prossigo, desta feita para uma tarde de intensa actividade não sei bem de quê, ou sei, mas…

São agora quase seis da tarde, estou frente a frente com o meu “sê activo” ou por outras palavras o meu (B! Active), um sumo de laranja com cenoura. Ora um sumo com um nome tão apelativo, quando choca com um homem que ainda há poucas horas tinha sido “atirado” contra uma parede pelo sol não pode sortir um bom efeito… pelo menos para todas aquelas pessoas que discretamente nos espiavam. Este homem é agora uma criança que faz trocadilhos com os “B!” sabores…

“B! Drogado – Cannabis Cola”

“B! Otário – Água Açúcar”

…mas como criança que sou depressa os trocadilhos são postos de parte, um momento de silêncio, e eis que cai sobre a mesa a pergunta mais inquietante para todos aqueles que indirecta e inconscientemente estavam atentos à nossa conversa: – Queres ser reitor? – Epá esta semana não posso, talvez para a semana.

Os que nos espiavam permanecem imóveis, mas não as suas almas, estas comunicam, olham-se entre si, por momentos e por entre um franzir de sobrancelhas e um encolher de ombros concluem: ESTÃO LOUCOS!

Um após o outro, todos os que nos espiavam saíram dali num movimento contínuo e melancólico, como um bando de abutres de ideias que hoje ficou com fome ao jantar, não, que não estivessem ali duas presas ao seu dispor, mas porque não souberam como encetá-las…

Outubro 24, 2008 Posted by | Uncategorized | 3 comentários

Ego. Alter Ego.

Se, e isto sou eu a imaginar (actividade a que, diariamente, dedico muito do meu tempo), por cada vez que alguém fecha os olhos, uma outra pessoa pudesse ver os seus pensamentos, o seu eu seria tão seu quanto o mais íntimo sentimento de posse lhe pede? (Vergonhas à parte, nada escondido.)Pode parecer descabido mas, quantas vezes já falámos nós com outra pessoa e nos trespassou o corpo aquela espécie de arrepio, tão intenso, tão assustador, tão real, que nos fez balbuciar qualquer coisa sem sentido, própria do ser disléxico, e que, naquele momento, apesar de ter quebrado o gelo e gerado umas agradáveis gargalhadas, nos fez sentir vulneráveis ao mais leve sopro. Fugir! Única e simples vontade de fugir! Fui descoberto! Viram dentro de mim!
E assim morre o Homem.
Posto isto, do meu ponto de vista, penso haver apenas três tipos de Homem: os que, por fraqueza, acabam por fugir mesmo; os que, quer por ingenuidade quer por verdadeira sabedoria e puro conhecimento, deixam transparecer a calma e a tranquilidade do auto-controlo; e os que, pura e simplesmente, se tornaram, por honesta vontade e saudável demência, transcendentes, inalcançáveis por tais ímpetos menos honrosos.
Em sinal de respeito, deixarei os melhores para o fim. Falemos dos que fogem.
Cobardia, dirão vocês! E eu pergunto, será mais cobarde o que foge ou o que olha nos olhos e enfrenta?
Não generalizarei, vos garanto. Tão nobre poderá ser quem foge como quem não arreda pé.
No mundo real, facas de um só gume não passam de simples visões. Aqui, nesta realidade, dois gumes ditam as regras. Com isto, o que pretendo dizer é o seguinte, cada gume tem prós e contras e, apesar de haver dias em que um dos gumes se apresenta, visivelmente, menos cortante: escolha fácil, também temos de ter noção que “um dia não são dias” e o difícil é lidar com os outros dias…
Acerca destes, mais não direi, deixarei ao vosso critério o julgamento (se algum tiver de haver…).
O tipo “difícil”, não sendo o último, é este de que vos tentarei falar agora: os que não são “nem carne nem peixe”. Este “pobres coitados”, vítimas inocentes (?!) da mediocridade, incapazes por natureza (alguns por vontade própria…), mais não são que tudo aquilo que receiam ser. No meio se encontram, nele se refugiam e dele não querem sair. Que auto-controlo! Nada de extremos! O limite assusta! Entre eles convivem e só eles se entendem. São incógnitas. O “X” irresoluto desta equação de incógnitas multifacetadas, sombra do novo mundo.
Por exclusão de partes, só me falta falar-vos de mais um tipo de Homem.
O ideal de Homem, na sua plenitude, deverá, sempre, passar pelo seguinte: um indivíduo que tem deveres. Por que falo eu em deveres e não em direitos?
A meu ver, toda a educação levada a cabo por parte da família, dos amigos, da escola e de toda a sociedade que envolve e serve de casa ao indivíduo tem por base um pilar, já por si, “podre”. Desde o momento em que nascemos, a educação que nos passam é sempre direccionada no sentido de “não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti”. Porquê? Porque temos direitos! Os direitos são a tua vida! Exije! Tens direitos! Errado.
Temos deveres em primeiro lugar.
Deveriam ensinar-nos, sim, “faz aos outros aquilo que gostarias que te fizessem a ti”. Pensar! Deviam ensinar-nos a pensar!
Como assim? Eu tento explicar.
O indivíduo diz “Eu tenho o direito de ser ouvido!”. Errado.
Temos o dever de ouvir os outros. Podemos esperar que nos ouçam a nós, mas não é, certamente, um direito nosso, “ser ouvido”.
O indivíduo diz “Eu tenho o direito de ser amado”. Errado.
“O verbo educar, tal como os verbos aprender e amar, não se podem conjugar na forma imperativa: educa-te!” (Bonito, 2008)
Há que ter sempre em atenção que podem haver perspectivas diferentes da nossa, daquela que nos ensinaram desde criança, daquela que nos fizeram crer como sendo universal, verdadeira, absoluta. Há que ter o “dedinho crítico” em acção! Sempre!
A individualidade a que somos habituados desde a mais tenra idade é algo que tem vindo a tornar-se problemático na nossa sociedade, pois há uma grande lacuna na maneira como o sentimento de individualidade é tido em conta. Há que pensar além, ver além do nosso Ego. “Eu sou eu e a minha circunstância.” (Ortega y Gasset).
Toda a criança passa por uma fase onde o egocentrismo determina tudo, ou quase tudo, o que ela diz, o que ela quer, o que ela faz, o que ela sente e o que ela pensa. O seu Ego é a coisa mais importante do planeta. É aqui, nesta altura, que deverá sem introduzida a noção de Alter Ego, a criança deve começar desde cedo a saber que o seu Ego é importante, mas não é mais importante que todos os outros Ego existentes. Há que conseguir relacionar e equilibrar o Ego com os milhões de Alter Ego que existem, e com os quais convivemos no nosso dia-a-dia. Construir o sentimento e a noção de cidadania, humanidade.
É por isto, que este “tipo” fica para o fim. Merece destaque. Este “tipo”, minúscula porção de habitantes do planeta Terra que alcançaram o utópico molde da perfeição. Conhecem-se bem, estão bem consigo mesmos e isso faz com que consigam estar bem com todos os outros e com tudo o que os rodeia. É assim que a harmonia se torna possível, é assim que podemos sentir-nos bem à sua volta. Este “tipo” de Homem é o que nos faz sentir bem, sentir livres, sentir que podemos ser o que somos pois, tendo ideias iguais ou não, este “tipo” de Homem transcende a banalidade e, sem aquele enorme esforço, característico do Homem incompleto, pouco trabalhado, pouco polido, pouco conhecedor do seu Ego e dos que o rodeiam, aquela coisinha corriqueira a que nos vamos habituando – o dia-a-dia – não o afecta, este Homem vive, no verdadeiro sentido da palavra. E mais, este “tipo” de Homem é livre. Tanto que consegue olhar para si, para os outros e pelos outros. Importantíssimo! Pelos outros.
“Não concordo com uma palavra do que dizeis, mas bater-me-ei para que possas dizê-lo.” (Descartes)

Outubro 24, 2008 Posted by | Uncategorized | 2 comentários

Saber de Perdição…

É como querer saber se depois da morte haverá vida. É precisamente um sonho surreal dessa natureza que o que sou me faz querer atingir. Porque o que sou nem eu própria consigo definir e vivo assim buscando o meu eu perdido dentro de mim, achando-me cega, surda e muda por desconhecê-lo.

Esquadrinho tudo o que vejo dentro do que acho que sou eu, tentando descobrir o que afinal faz parte desta pessoa que penso ser e que na realidade me é perfeitamente desconhecida. Procuro mais ainda, mais profundamente, por entre os medos e as dúvidas que, inesperadamente, me podem elucidar dessa personalidade que não se revela nem ao próprio detentor da sua pose. E continuo sem nada saber, tendo tudo por descobrir.

Prossigo nas buscas. Agora mais rapidamente, mais desesperadamente, porque já assusta e magoa esse saber da ignorância com que me movimento num mundo cruel demais para perdoar essa falta. E o medo cresce mais ainda ao perceber isto e a busca passa de desesperada a uma incontrolável loucura frenética que já não procura algo específico mas apenas um pedaço de madeira que sirva de apoio durante a deriva neste mar de tudo e de nada. Que fazer agora, que sei nada ser e nada encontrar para preencher a lacuna que no fundo toda eu sou por nada ser? Não sei, não sei, não consigo mais querer saber.

Tudo se começa a afundar porque nada tem mais sentido se o eu é essencial para tal e a minha pessoa se vê agora destituída dele, desde sempre, sem sabê-lo perdido. Não pode haver desejo de ficar se nem sequer tenho um eu para desejar algo concreto, dando um motivo para a minha existência. Se não há motivo, não há vontade e assim não há medo de perder o que a vontade poderia alcançar.

Vou cair nesta letargia de nada ser até que algo leve aquilo que aparentemente sou eu. Vou ser o que não sou nem nunca fui até ao final do que supostamente foi vida e experiência própria. Vou fazer o que é esperado de mim, daquela que é assim a minha essência, criadora de expectativas que os outros teimam em querer formar e ver cumpridas. E não me vou revoltar, nem gritar, nem pedir a este sofrimento de me saber não sabida que pare de me torturar e me leve para onde for de vez, só para que pare.

Que importa se vou se nunca estive?

Outubro 22, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário

Novos manifestos para a crítica social! (Parte I)

Ao longo da história, vários manifestos provaram a possibilidade de construir uma crítica social aos modelos dominantes e, simultaneamente, da emergência de novas ideias e desafios. São manifestos que, em última análise, representavam guinadas ideológicas, culturais, às vezes, políticas que pretendem edificar novos modelos e sistemas de organização social, política e económica através de ideologias culturais e educativas alternativas.

Estes manifestos tiveram variadíssimas expressões consoante o(s) contexto(s) espacial e temporal onde se concretizaram, ou seja, as «condições materiais» que estruturavam a sua acção, atingindo sempre dois sistemas humanos: o sistema simbólico das ideias, dos conceitos, das representações; e o sistema material, das relações humanas, dos comportamentos sociais, dos modelos institucionais.

Na verdade, os manifestos, ao exercer esta acção de sensibilização, através de uma crítica aos modelos sociais, políticos e económicos dominantes, propõem a configuração de uma mudança social urgente (diferente de radical) e emergente que, através de uma postura hermenêutica de compreensão crítica dos discursos relativos ao tempo presente, constitui um lugar u-topico de reflexão e de reconfiguração de um discurso de harmonia e, sobretudo, de solidariedade, justiça e liberdade.

Este trabalho de compreensão nem é um trabalho novo, nem antigo, mas uma condição antropológica da vida humana e condição urgente de sobrevivência da espécie humana. Queremos com isto dizer que, se a espécie humana não exercesse este trabalho de compreensão da realidade e de interpretação dos acontecimentos, muito dificilmente iria conseguir alcançar níveis tão grandes de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, é esta capacidade de compreensão – hermenêutica da vida – que eleva os horizontes do ser humano ao lugar do sonho, da criação, da utopia; lugar indefinido por natureza porque ninguém sabe, (ou consegue explicar), onde fica o principio, ou o fim, qual a sua morada, o seu “habitus”, com que regras se baseia. Se pensamos bem, a representação teológica da figura de Deus configura-O como o princípio e o fim, a totalidade do tempo, e por conseguinte, do espaço. Ao mesmo tempo, materializa essa representação do Senhor da Criação e, sobretudo, da Nova Criação, totalizando não só a dimensão material da vida humana, como também a espiritual.

Desta forma, os manifestos que afectaram directamente as estruturas religiosas são representações viáveis das estruturas que outros manifestos, marcadamente culturais, ideológicos e políticos, seguiram. Assim, tal como a figura de Jesus Cristo representa um manifesto contra as estruturas religiosas e, também, políticas, económicas e culturais, o movimento feminista representa um manifesto pela importância de um lugar socialmente, politicamente e economicamente reconhecido e, sobretudo, pela importância da igualdade de oportunidades.

Tomados universalmente, os manifestos podem constituir outro tipo de instrumentos de mudança social e de ruptura com os modelos dominantes, na medida em que fornecem pistas de acção, mas sobretudo, valores intemporais que a condição (temporal e limitada) do ser humano tende a corromper e a desestruturar. Nesta limitação “natural”, que regula a relação entre uma dimensão universal dos manifestos, e a natureza singular do ser humano, reside a possibilidade educativa, ou seja, a relação educativa: como afirma Paulo Freire, «a eficácia da educação está nos seus limites. Se ela tudo pudesse ou se ela pudesse nada, não haveria porque falar dos seus limites. Falamos deles precisamente porque não podendo tudo, pode alguma coisa» (Freire, 1999: 30).

Esta “possibilidade educativa” que surge, aparentemente, a partir de uma necessidade ou limitação, através de uma interpretação dialéctica de construção, desconstrução e reconstrução dos sentidos e significados, reconstrói criticamente esta relação “limitada” a fim de recompor o sentido educativo implícito em determinada experiência – esta “possibilidade educativa” é uma (possível) representação da postura/acção hermenêutica que atrás referimos. Assim, o nosso argumento é que a Educação não é meramente um instrumento, ou um objecto em função de um outro sujeito, mas uma relação (que é a Educativa) e estrutura uma determinada acção (acção de educar) sobre a realidade. No seguimento deste argumento, pensamos que a limitação entre a natureza intemporal dos manifestos e a natureza temporal do ser humano pode tornar-se uma “possibilidade educativa” na medida em que o sentido e o significado educativo não é só relativo à estrutura material da relação (a possibilidade de corrupção), mas também à estrutura intemporal (a possibilidade de projecção). A relação que é a Educação é mais que a regulação social, ideológica, cultural ou política; ela projecta o passado, o presente e o futuro, sem nunca estabelecer limites espaciais ou temporais, ou seja, a educação como a Utopia, o lugar de emancipação.

Neste lugar (não-lugar) de emancipação, o ser humano encontra nos antigos manifestos, uma possibilidade nova de luta e de contestação social que reconfigurando outros espaços de opinião pública, procura exercer uma acção de sensibilização, de animação, de diversão, mas também, de reflexão, de discussão, de partilha de significados que constituam novos manifestos para a crítica social!

Outubro 20, 2008 Posted by | Uncategorized | 2 comentários

Olha para mim e sorri…

Reparamos nas flores quando já não existem,
saltamos do cavalo quando ainda cavalgamos,
lavramos os campos que não têm frutos para dar,
bebemos as águas de um rio sem caudal…
Corremos pelo mar e rasgamos o tempo,
chegamos ao arco-íris e percebemo-nos daltónicos,
descobrimos cores que jamais imaginarias existir,
vivemos os momentos onde a alucinação levaria.
Carregamos o fardo das últimas colheitas,
e esperamos um ano que traga sobressaltos,
vendemos as despesas e comprámos as misérias,
ouvimos as verdades de quem de frente se senta.
Perdemo-nos na floresta onde as aves não cantam,
enlouquecemos com o silêncio que nós próprios criamos;
Basta perguntar: deixaremos tudo como está?
ou entramos no mundo que deixaram para nós?

Outubro 20, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário

Uma Pérola.

Tenho Sempre uma ferida,
Que preciso de cicatrizar.
A mais bela das pérolas que eu consiga gerar.
Transporto no peito, um verdadeiro colar.
Que exibo com preceito, se arriscares duvidar!
É LINDO!
Furacão que desperta,
Cheio de forças de encantar.
Na dureza das minhas palavras,
Na franqueza do meu olhar,
Na simplicidade da minha Alma,
Num Sorriso de embalar.
Sossega e Aceita,
Esta Pérola que te estou a Dedicar.

Outubro 18, 2008 Posted by | Uncategorized | 2 comentários

O mentir.

Mãos que uma vez tocaram a doce malha da vida,
Entrançaram e emaranharam, nada de mais conseguiram.
A ti, que mentes sem medo, mentindo sem mesmo mentir,
Fazes da morte uma vida, cometes loucuras sem fim.
Hoje, por outra janela, não aquela que outrora fiz,
Olhaste a cuidado, com medo de ver,
Tudo era belo, era novo para ti.
Surpreendido, o Mundo parou,
Tudo era belo e o vento soprou.
Soprando de cima moldou a saudade
De coisas tão belas como a mais tenra idade.
Semanas ou anos pouco importam assim,
Há gente que mente sem ter qualquer fim.
A isto somado, sem, com isso, parar,
Olhavas o Mundo sem pestanejar.
E nisto tu vias, mentiras em ti,
Não mais conseguias, não estavas aqui.
Mentiras mentidas por alguém como tu,
Que mentindo vivias cada vez mais nu.
Então, onde estavas, parado a olhar,
Eis que, do alto, rebola o pensar!
Pensando pensaste, e tamanho pensar,
Vai volta e não volta, não há volta a dar.
Que foi isto? Que vento mauzão!
Com tal ventania descobriste o coração!
Sentes agora o sentir?
Olhando para ti, deveriam gozar,
Pois nunca pensaste no que era o amar.
Com tudo o que viste, mentiste resoluto,
Mas nunca pensaste que o amor é astuto.
Sente agora! Pensa de novo!
Uma vez nascido, para sempre mentiroso.

Outubro 16, 2008 Posted by | Uncategorized | 1 Comentário